11 de agosto de 2011

Greve do Coveiro



Chico Preto era querido;
Sua labuta, respeitada;
Sua vida era ser coveiro
No cemitério da cidade.
Por todos conhecidos,
Como o homem da hora errada.

Era cumprimentado por todos;
Do juiz Azépio, ao padre Tião;
Até Gegeca, conhecido por teimoso,
Não se atrevia mexer com o negão.
Pois era saber, até do mais tolo,
Que um dia passaria por sua mão.

Homem bom, como só ele;
Tratava bem planta e bicho.
Não fazia mal a coisa alguma.
Queria bem a todo mundo.
E quem encontrasse a morte,
Com ele, partia seguro

Só que certo dia,
Algo estranho ocorreu.
O tal Chico não queria
Sepultar a quem morreu.
E ninguém compreendia
O ato que ele cometeu.

E gritou em alta voz:
“Já sepultei muita gente,
Mais do que alguém já viu!
De coronel a tenente;
De doutor formado a juiz;
Até cangaceiro valente!

Já cavei mais buraco que tatu!
De madrugada ou ao mei-dia,
Jamais tive hora pro trabalho.
Também nunca me meti
A fazer o que não quero
E hoje não há de ser o dia!”

Chamaram até o delegado,
Pra saber o que houve.
E Chico Preto sem bobear,
Manteve sua posição;
E ao ser indagado
Pelo motivo da rebelião

“Não estão vendo o crime;
Tentaram matar a EDUCAÇÃO!
Com veneno de Rosas.
Que é pior que escorpião;
Dele nós já esperamos;
De quem exala perfume, não!”

E continuou esbravejando:
“Eu não enterro quem tá viva!
Acredito que ainda tem jeito.
Mesmo fraca ou esmorecida
A educação merece respeito,
E ela não se dá por vencida

Não deixarei impune!
Pois isso assim não ficará.
Vou arrancar todas as rosas.
Se não serve pra perfumar,
Vou moer cada parte,
Delas, então, faço um chá!”

(Inicialmente postado em: http://ondevivemaslendas.blogspot.com)

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